Pegue um rio com diversos afluentes, junte terras férteis, acrescente florestas e clima privilegiado, além de uma pitada de oportunismo de homens corajosos que aproveitaram terras devolutas para fixar raízes e você terá a receita que criou o pequeno povoado que se transformou, em 129 anos, na maior cidade do interior de Minas Gerais. Essa história deveria ser de caráter obrigatório nas escolas. Afinal, conhecer suas origens é condição sine qua non para pensar o futuro.
Então, lanço mão do texto extraído de um livro editado em 15 de junho de 1931, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, para contar essa história. Convido a todos para entrar na máquina do tempo, pegar o livro na prateleira e degustar. A grafia abaixo está correta pois estamos em 1931. Boa viagem a todos.
“O primeiro entrante
Nos começos do século XIX, nesta zona do Triângulo, que é comprehendida entre o rio Grande e o das Velhas, na antiga provincia de Minas Geraes, comarca de Paracatú do Principe, Julgado do Desemboque, Prelazia de Goyaz, os nucleos de população que só de recente havia começado a penetrar pelos sertões da Farinha Podre, eram raros, rudimentares, distanciados, quasi perdidos por esses ermos, cujos mysterios o andaz Anhanguera havia começado a desvendar em 1722.
Até 1818, além do povoado do Desemboque, séde do Julgado homonymo, poucos e riachiticos arraiaes havia aquem do rio das Velhas – Uberaba, Prata, Sacramento.
Ao longo da estrada geral residiam alguns indios, que tinham sahido da Aldeia de Sant’Anna, os quaes nunca tiveram animo de alongar-se para alguns dos lados da mesma estrada, nem ao menos meia legoa, como depois se conheceu pelas suas culturas sempre visinhas ás suas habitações.
Em 1817, recolhido ao Patrimonio Nacional o territorio evacuado pelos indios que ladeavam a estrada de penetração para Goyaz, não só esse territorio por elles anteriormente occupado, mas tambem outros extensissimos, que lhe ficavam adjacentes, passaram a ser de livre concessão e de facil acquisição para os primeiros occupantes.
Isso não podia deixar de despertar a ambição de vastos aposseamentos e dilatadas e rendosas colonisações em quantos dispozessem de meios materiaes e de animo suficiente para se abalançarem ás promissoras conquistas do sertão e dahi, a começar dessa epoca, se produziu com redrudescencia de entradas de sertanistas, com mira nas terras do Triangulo.
E, provavelmente, foi por essa epoca que João Pereira da Rocha, movera do valle do Paraopeba, em demanda de terras devolutas para si, e, talvez, para outros. Aportando ás immediações do Rio Uberaba Legítimo, elle obliquou á esquerda da estrada real, rumo da confluencia desse rio com o das Velhas, aonde se distendiam dilatados terrenos baldios, completamente deshabitados, opulentos de florestas e de campos verdejantes, fertilissimos, de aguadas explendidas, previlegiados de clima, perfeitamente aptos para facilidade da vida e prosperidade de quaesquer estabelecimentos.
Em jornada de exploração o ousado pioneiro, a quem sobravam animo, experiencia e saude, no dia 29 de Junho de 1818, dia de São Pedro, aportou ás margens do Ribeirão que elle, em recordação do dia e homenagem ao Santo, demonimou São Pedro, nome pelo qual ficou sendo conhecido e tratado. Percorreu rapidamente a deserta zona, marcou pontos acommodados para situações agrícolas e pastoris, nos quaes ia deixando roças que fossem signal de occupação e posse.
Há tradição delle haver deixado roçados e roças plantadas em diversos pontos da Sesmaria de São Francisco, que elle assim denominou pela sua grande devoção para com esse Santo, na fazenda do Salto e na do Letreiro.
E é a tradição que no corrego do Letreiro, aonde elle deixara roças plantadas, se descobrira uma arvore com uma tôsca inscripção no tronco, aberta á ponta de faca, do que se poderá inferir que, antes delle, já outrem, se não sabe quem, haveria aposseado as terras marginaes daquelle corrego, que das letras tirou o nome.
João Pereira da Rocha, após breve ausencia, afim de ir buscar a família, voltou novamente e em definitivo a estas plagas, em numerosa caravana de filhos, de escravos e de protegidos, batendo sua arranchação no sitio São Francisco, á margem esquerda do rio das Velhas.
Em sua fazenda de São Francisco João Pereira da Rocha tratou de lavouras e de criações; ensaiou até a industria, montando uma rudimentar fabrica de anil, que elle exportava, em tropas, para São Paulo e Rio de Janeiro.
João Pereira da Rocha foi casado duas vezes; a primeira com d. Genoveva, de quem houve doze filhos, e a segunda com d. Francisca Alves Rabello, de quem houve uma filha. Elle tivera também, quando ainda lá fóra, dois filhos naturaes, que com elle vieram e que elle collocou em terras de sua fazenda do Salto, subdivisão da fazenda de São Francisco.”
Joao Pereira da Rocha era irmão de Antônio Agostinho Lobo Leite Pereira (foi Capitão-Mor de Vila Rica, hoje Ouro Preto). Antônio foi colega de Tiradentes.
Sobre a família Lobo Leite Pereira
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/07/15/interna_gerais,306091/familia-retira-tesouro-mineiro-de-velhas-malas.shtml
Sou tataraneto do Coronel Manoel Alves dos Santos e bisneto do Jośe Alves dos Santos (todos descendentes do João Pereira da Rocha). Manoel Alves dos Santos era neto do João Pereira da Rocha (seu pai, Francisco Alves Pereira, era filho de João Pereira da Rocha com a Genoveva)
Boa tarde !
Sou descendente direta de João Pereira da Rocha. Estou tentando fazer minha árvore genealógica .Tenho algumas informações, se puder me ajudar, agradeço .