Um Vigário, um povo determinado e o dia 31 de agosto

Nova Igreja Matriz, erguida em 1861

Trechos do livro Municipio de Uberabinha 1922 – editado pelo Governo do Estado de Minas Gerais em 1931, transcrito para este blog com a grafia da época.

Vigário Dantas e a Villa

“Em 1865, o Padre João da Cruz Dantas Barbosa começou a administração da paróquia de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. A faixa de terreno que contornava a Matriz, o adro, em que se fazia o enterramento de cadaveres, nunca chegou a ficar completamente vedada e já se achava literalmente cheia, o que constituia um perigo para a hygiene publica e um desrespeito pelos mortos. Concomitantemente no interior da Matriz se abriam sepulturas e também já estava repleta.

Impunha-se imperiosamente a construcção de um cemitério e já havia um cruzeiro levantado no logar escolhido, porem, encostado ás habitações, muito perto do casario. Em torno desse cruzeiro, isolado e desguarnecido, já se haviam sepultado alguns cadaveres.

em 1880 o popular Missionario Frei Paulino veio pregar missões no arraial, e, de acordo com o Vigário, resolveu dotar a população com esse inadiável melhoramento. Á vóz do Missionario o pessoal de todas as camadas sociaes moveu-se; demarcou-se o logar, abriram-se alicerces, carregaram-se pedras de perto e de longe e em pouquinhos dias o cemiterio estava traçado e os alicerces acabados.

Indo embora Frei Paulino, o Padre João ficou presidindo uma comissão para acabamento da obra e em 1881 poude ser inaugurada a nova necropole, a qual serviu até 1898, anno em que a Camara Municipal mandou construir o cemiterio agora existente.

Praça da Liberdade, atual Clarimundo Carneiro. Neste local era o Cemitério Municipal
Praça da Liberdade, atual Clarimundo Carneiro. Neste local era o Cemitério Municipal

Reaes e efficazes foram os esforços do Padre João para a elevação do arraial a Villa. De mãos dadas com outros operosos, elle representou ao Governo da Provincia, ennumerando os motivos que justificavam a pretensão dos uberabinhenses; solicitou e conseguiu boas referencias e attendiveis empenhos no seio da Assembléa Provincial; providenciou a construcção de predios que deveriam servir de casa da Camara, de Forum e de aulas de instrucção, conseguindo ver realisado esse seu desideratum, que era o anhelo do povo todo.

A representação popular, portadora das asprtações locaes, foi apresentada á assembléa provincial mineira em 7 de agosto de 1888, pelo então deputado Augusto Cesar Ferreira e Souza, mais tarde procer na politica de Uberabinha, notando-se que essa representação já enumerava uma série de melhoramentos que asseguravam ao districto direito ás pretenções solicitadas.

De facto, reza esse documento, em Uberabinha já se encontravam <<sessenta engenhos de canna, sete engenhos de serra, nove olarias de telhas, seis officiaes de ferreiro, quatorze officinas de sapateiros, seiscentos carros arreados em trabalho, duzentos predios, um cemiterio, obra de pedra aperfeiçoada, uma Matriz importante, contendo todos os paramentos, uma Igreja do Rosario em construcção, duas aulas do sexo masculino e feminino, oito aulas particulares, dez capitalistas, nove negociantes de fazendas, doze negociantes de generos do paiz e molhados, uma fonte de aguas sulphurosas já acreditadas, um hotel bem montado, pedras de diversas qualidades e muitas madeiras de lei.

Igreja do Rosário. Estava em construção na época da elevação de Freguesia a Villa
Igreja do Rosário. Estava em construção na época da elevação de Freguesia a Villa

O mesmo documento orçava a exportação annual de gado, porcos e mais generos em cem contos, a importação em cento e cincoenta contos, o numero de eleitores em oitenta, o numero de cidadãos aptos para jurados em duzentos, a creação de gado vaccum em vinte mil cabeças.”

O dia 31 de agosto

“Os esforços dos uberabinhenses para a elevação da freguesia á Villa foram coroados de successo. O Governo da Provincia, por sua lei nro 3.643, de 31 de agosto de 1888, elevou á categoria de município autonomo, sem fôro, as freguesias de S.Pedro de Uberabinha e de Santa Maria, desmembradas dos Termos de Uberaba e de Monte Alegre sendo a séde na primeira.

Nomeados os primeiros intendentes por acto do governo do Estado, de 31 de janeiro de 1891, empossou-se a primeira Intendencia Municipal em 14 de Março desse anno, sob a presidencia do alferes Antonio Alves dos Santos.

Eram escassos os seus recursos e por isso tambem pouco lhe foi possivel fazer, mas dos poucos actos que concretizou resalta sempre o nobre desejo de bem servir ao publico, com notavel desprendimento de interesses.

Cuidou seriamente da organisação administrativa do municipio e nesse tentamen foi magnificamente auxiliado pelo incansavel defensor das aspirações locaes, major Augusto Cesar, que tudo fez para o rapido desenvolvimento de Uberabinha.”

Largo do Comercio, na Uberabinha do começo do século XX
Largo do Comercio, na Uberabinha do começo do século XX

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