A Capital Federal no Triângulo Mineiro

Juscelino Kubitschek encontrando Tubal Vilela, durante sua campanha à eleição para presidente – foto divugação

 

A década que antecedeu a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República foi marcada por uma disputa discreta, ao estilo mineiro, porém firme, pela localização da futura capital nas proximidades de Uberlândia. O “triângulo” à frente dessa luta era formado por Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro e Lucas Lopes. A ideia foi lançada no plenário da Assembléia Constituinte de 1946, em uma tarde ensolarada de segunda-feira, 20 de maio. O então deputado Juscelino Kubitschek pronunciou discurso exaltado, defendendo a fixação da nova capital no Triângulo Mineiro, solicitando a transcrição nos anais da assembléia, de um estudo apresentado pelo engenheiro Lucas Lopes. O deputado Israel Pinheiro também defendeu a localização da cidade na mesma região, sob o argumento de que a construção da nova cidade não deveria se estabelecer por muito tempo e a região já contava com boa infraestrutura de estradas e ferrovias que a ligavam estrategicamente aos principais pontos do país.

A propositura não era muito distante das pretensões de Floriano Peixoto que na primeira constituição republicana, em 1891, seguindo a estratégia militarista de interiorização fronteiriça do poder, inseriu artigo que pretendia localizar a capital do país no planalto central, nas alturas de Formoso, Goiás. O primeiro ato do governo provisório, em 15 de novembro de 1889, deixou clara a ideia de mudança ao decretar que a cidade do Rio de Janeiro seria “provisoriamente, sede do Poder Federal”

de 1891 a 1911 foi um pulo. Nesse ano cogitou-se a transferência da capital para o meio do sertão. O coronel Carneiro, então, gastou muita pena e tinta, escrevendo para os correligionários, sugerindo que a escolha recaísse sobre Uberlândia. Mas foi só um escrito no molhado e não seguiu adiante.

Alguns anos mais tarde, o senador estadual Camilo Chaves pleiteou a capital federal para o pontal do Triângulo. Mas, durante a ditadura de Getúlio Vargas a questão foi esquecida.

O assunto voltou pegando fogo na restauração da democracia. Na Constituinte, o deputado mineiro Artur Bernardes sugeriu que, em vez de no Planalto Central, a capital ficasse no Brasil Central. O que ele quis foi estender a área de localização da capital. Outro mineiro, o Benedito Valadares, restringiu a área, mas deslocou-a do Planalto Central para o Triângulo. Vem outro mineiro e restringe mais a área: que seja no Triângulo sim, mas no pontal, como queria Camilo Chaves. Aqui, e possivelmente em outros municípios triangulinos, os jornais lamentavam não ter nenhuma representação na Constituinte para brigar com unhas e dentes pela localização da capital no Triângulo.

Assim que foi empossado, Dutra nomeou uma comissão e pediu agilidade a fim de escolher um local para construir a nova capital. Diante da nova abertura, os municípios se animam, expõe suas qualidades, cada um melhor que o outro, exaltados com a possibilidade de serem escolhidos. Entre tantos concorrentes, o jornal “O Diário”, de Belo Horizonte, em 1946, sugeriu que a nova capital fosse colocada em Uberlândia. O periódico faz uma breve descrição da cidade, indica as vantagens que possui e as possibilidades que carrega por sua localização, por sua estrutura urbana, por suas condições topográficas. Os políticos da terra e os líderes vão atrás e pedem aqui, justificam ali, imploram acolá. Os jornais uberlandenses dão cobertura ao sonho da gente e chegam ao cúmulo da confiança nas qualidades quando pedem que outras cidades se candidatem para sofrerem comparação. Para todo mundo na cidade, o lema era “como Uberlândia, não tinha outra”. No fim das contas, os constituintes repetem a primeira constituição e a capital iria para o Planalto Central mesmo.

E o Dutra, como outros, ficou pelo caminho e não construiu a nova sede do poder federal. Nova eleição e Getúlio, durante a campanha, chega a dizer em um de seus comícios que construiria a nova capital em Uberlândia.  Novamente os crédulos se alvoroçam. Mas o governo do Getúlio foi conturbado e acabou como a história conta. Foi a vez de Juscelino e a esperança nativa de assumir seu discurso registrado na Assembléia Constituinte de 46. Mas ficou apenas no discurso sem nada acontecer. A capital acabou sendo construída mesmo segundo a vontade manifesta de Floriano Peixoto lá em 1891.

Centro de Uberlândia, década de 1930. A cidade já se preparando para ser grande – foto divulgação
Centro de Uberlândia, década de 1930. A cidade já se preparando para ser grande – foto divulgação

 

A movimentada avenida Aphonso Penna, década de 1940, Uberlândia – foto divulgação
A movimentada avenida Aphonso Penna, década de 1940, Uberlândia – foto divulgação

 

Juscelino Kubitschek em comício no coreto da praça da Liberdade, atual Clarimundo Carneiro – foto divulgação
Juscelino Kubitschek em comício no coreto da praça da Liberdade, atual Clarimundo Carneiro – foto divulgação

 

O Governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek, caminha pelas Avenida Afonso Pena, ao lado do Prefeito Municipal Tubal Vilela, em campanha para as eleições presidenciais de 1955 – foto divulgação
O Governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek, caminha pelas Avenida Afonso Pena, ao lado do Prefeito Municipal Tubal Vilela, em campanha para as eleições presidenciais de 1955 – foto divulgação

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