E a eletricidade chega a Uberabinha!!

Avenida Aphonso Penna à noite, e suas luminárias centrais, suspensas por cabos de aço. Foto: divulgação.

 

Uberabinha, 1922

Idealizada a organização dos serviços de eletricidade na cidade, pelo Coronel José Theóphilo Carneiro, homem incansável para tudo quanto importe no progresso e desenvolvimento de Uberabinha, colocou ele em campo a firma comercial Carneiro & Irmãos, composta de vários filhos seus sob a sua chefia e, por contrato de 10 de fevereiro de 1908, satisfeitas as formalidades legais, concedeu a Camara Municipal à dita firma o privilégio para estes serviços, por espaço de 25 anos. A firma concessionária foi então constituída dos seguinte sócios: Coronel José Theophilo Carneiro, José Carneiro, Adolpho Carneiro e Clarimundo Carneiro.

Atacados desde logo os serviços necessários, a 24 de dezembro de 1909 teve lugar a inauguração da iluminação pública e particular, iniciando-se também o emprego da eletricidade como força motora.

Com o fim de destacar estes serviços dos demais a cargo da firma Carneiro & Irmãos, resolveram os sócios desta, com admissão de outros acionistas, que completassem o número legal, a organização da Companhia de Força e Luz de Uberabinha, com o capital de 300:000$000 em forma de sociedade anônima, o que se realizou em 15 de setembro de 1912.

De acordo com os estatutos, foi escolhida para sede da companhia a capital de São Paulo, sendo eleito Diretor Presidente o cidadão Francisco de Sousa Pereira e, Diretor Gerente o cidadão Clarimundo Carneiro.

Em virtude de deliberação da Assembléia, verificou-se em 14 de dezembro de 1915 a mudança da sede da companhia para Uberabinha, sendo desde então o lugar de Diretor Presidente ocupado pelo Coronel José Theophilo Carneiro, continuando como Diretor Gerente o cidadão Clarimundo Carneiro.

À margem direita do Rio Uberabinha, aproveitando a poderosa cascata denominada “Do Salto”, que pode fornecer alguns milhares de HP, distante seis quilômetros da cidade, foi instalada a usina geradora, composta de dois grupos de máquinas, sendo um de 500 HP e outro de 1.000, junto com duas turbinas de alta pressão, a primeira de J.M.Voith, e a segunda de Amme Giesehe-koneggem, estando ambas ligadas a gerados de igual e correspondente capacidade da afamada marca alemã A.E.G..

O canal que conduz a água para alimentar o tubo adutor tem cerca de 450 metros de extensão, sendo provido de quatro comportas.

A linha de transmissão da usina à cidade, de quatro mil volts e 50 ciclos, está construída sobre postes de aroeira roliços.

Na cidade, as redes de alta e baixa tensão, respectivamente de 4.000 mil e 220 Volts, estão também construídas sobre postes da mesma madeira, aparelhados e oleados.

A iluminação pública é feita por meio de 267 lampadas de 50 velas, 79 de 100 velas e 29 de 400 velas, distribuídas nas principais praças, avenidas e ruas da cidade, pagando a Câmara Municipal pela referida iluminação, anualmente, 22:000$000, divididos em quatro parcelas trimestrais de 5:500$000.

Na avenida Aphonso Penna, a mais beneficiada da cidade, a iluminação é feita no centro, estando as armações, onde se acham colocadas as lâmpadas, presas por meio de cabos de aço, estendidos de um a outro lado da avenida. Nas demais ruas e avenidas as lâmpadas estão colocadas em braços de tipo comum.

A iluminação particular abrange cerca de oitocentos prédios cobrando a companhia concessionária, mensalmente, 3$000, 4$000, 6$000, 8$000, 12$000, 18$000, 22$000 e 25$000, respectivamente, por lâmpadas de 10, 16, 25, 32, 50, 100, 200, 300 e 400 velas, fazendo o desconto de 20% sobre a quantia excedente de 15$000, e sobre a importância total, quando o consumo mensal é superior a 50$000. A companhia, sob contrato, tem fornecido grandes descontos nos preços acima estipulados.

O fornecimento de eletricidade como força motora é feito a medidor, cobrando a companhia de $090 a $300 por KWH e por HP ao mês, à razão de 10$000 a 16$000, conforme a capacidade dos motores. Às indústrias novas, consumindo de 50 HP para mais, a companhia faz concessões especiais nos preços. Acham-se ligados às redes de distribuição 22 motores elétricos de diferentes capacidades.

A renda bruta da companhia concessionária atingiu, no último ano, a soma de 154:856$500 e o capital empregado a 568:859$200.

Seria injustiça encerrar-se esta notícia sem a declaração de ser o serviço de eletricidade em Uberabinha um dos que se apresentam sob a melhor organização e funcionamento, pelo que, é digna de todo elogio a companhia que o explora.

Olhando para o futuro

A inauguração dos serviços de eletricidade, com o fornecimento de energia para o desenvolvimento das indústrias, abriu incontestavelmente, para esta cidade, uma nova era de atividade.

A pouco e pouco foram se fundando pequenas fábricas, máquinas de beneficiar arroz, algodão, serrarias, etc., de maneira que Uberabinha conta hoje cerca de 20 estabelecimentos industriais movidos a eletricidade.

Tendo a Câmara Municipal concedido, há pouco, alguns favores para a montagem de uma fábrica de tecidos com 100 teares, nesta cidade, a Companhia de Força e Luz, como um dos fatores principais do progresso local, colocou imediatamente à disposição da empresa que for organizada o fornecimento gratuito de 250 HP pelo prazo de 10 anos.

Tal oferecimento representa um auxilio inestimável e digno de ser devidamente apreciados por todos os uberabinhenses, sendo certo que essa concessão influirá decisivamente na montagem do grande estabelecimento industrial que vamos, em breve, possuir.

Fonte: Município de Uberabinha, História, Administração, Finanças, Economia, 1922 – Governo do Estado de Minas Geraes, 15 de junho de 1931

Avenida João Pinheiro, Uberabinha, com os postes de iluminação dupla, em art deco, no canteiro central. Foto: divulgação
Avenida João Pinheiro, Uberabinha, com os postes de iluminação dupla, em art deco, no canteiro central. Foto: divulgação

 

Cachoeira Do Salto e a casa da usina de energia elétrica da Companhia Força e Luz de Uberabinha. Foto: divulgação
Cachoeira Do Salto e a casa da usina de energia elétrica da Companhia Força e Luz de Uberabinha. Foto: divulgação

 

Detalhe da tubulação que levava a água até as turbinas da usina da Companhia de Força e Luz de Uberabinha. Foto: divulgação
Detalhe da tubulação que levava a água até as turbinas da usina da Companhia de Força e Luz de Uberabinha. Foto: divulgação

 

Detalhes da praça Antonio Carlos, atual Clarimundo Carneiro, dos postes de distribuição de energia e dos postes de iluminação. Foto: divulgação.
Detalhes da praça Antonio Carlos, atual Clarimundo Carneiro, dos postes de distribuição de energia e dos postes de iluminação. Foto: divulgação.

 

 

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